quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Isso não é um Ebó


Cozinhei raiva no dendê... e do caldo grosso, cuide o tempo.
Lavei ódio no resto da cachaça e a sobra é da rua.
Retalhei rancor em cacos de garrafa espatifadas nas espadas.
Acabou o tempo da água suja. 
Voo.
Sem impurezas na pele, sem vestígios de lágrimas alheias, pois embaixo da água foi o que é da água.
E de líquido barrento e lama e lodo quem sabe tirar o bom é a mãe primordial.
Nada se reflete do espelho sujo da hipocrisia mundana
Nem esse reflexo me alcança. 
Oxum me limpa. Exu me liberta em palavra e poesia vulcânica.
Dou o resto de mágoa cadáver para a pedra viva de Xangô
Esse sabe o que fazer, eu não.
E na minha pele nova, fininha, criança, que nada sobre.
Dos restos de tudo, come tu. 
Toma todo espólio. 
Encha, inche, estufe do que é seu. 
Porre. Porra. Não Pare. 
Nada disso me pertenceu e ficará, sangrou, fluiu, estancou, cicatriz em fogo que um dia nem verei mais na cara.